Com a modernização da
Zona Portuária, antigo armazém é repaginado e se torna casa de show no Centro
boêmio do Rio
Beatriz Garcia
Os trapiches
originalmente são máquinas que foram muito utilizadas durante o período do
engenho no Brasil. A máquina funcionava com tração animal que, por algumas
vezes, era substituída por tração humana. Os escravos eram colocados nos
lugares dos bois e giravam um em cada braço de força para moer a cana e dela
extrair o caldo. O líquido que dela saía era mais utilizado para a fabricação
de cachaça do que ser usado como açúcar.
Mais tarde, os trapiches serviram como casas de suporte e armazenamento de produtos
para importação e exportação de mercadoria na Zona Portuária da cidade. Os
trapiches funcionavam também como pontos de encontro nos centros das cidades,
devido a sua localização. Comerciantes de diversos lugares se reuniam ali para
trocar informações, comer, beber, receber as mercadorias ou estocá-las para
serem exportadas.
No Rio de Janeiro, o trapiche que mais prosperou foi o Gamboa. Localizado na Zona
Portuária, o estabelecimento foi muito importante na época da construção do
Porto do Rio. Próximo ao Morro da Conceição, ao Cais do Valongo e à Pedra do
Sal, situava-se próximos a outros armazéns onde escravos eram comercializados. Com
a proibição e a libertação dos escravos, toda essa região ficou degradada e foi
esquecida.
A
revitalização
A primeira grande
reforma que a Zona Portuária sofreu foi durante o governo de Pereira Passos, no
início do século passado. As obras acabaram isolando essa parte da área nobre
do Centro do Rio. Não foi diferente com a abertura da Avenida Presidente
Vargas, nos anos 40. A área voltou a ser desprestigiada mais uma vez.
Com a vinda de grandes eventos para a Cidade Maravilhosa,
um projeto de revitalização do Porto e adjacências precisou ser criado. Uma
cidade que se propõe a receber os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo não poderia
ter uma de suas portas de entrada tão degradadas. O projeto Porto Maravilha foi
criado através de uma lei de operação urbana. A obra consiste em modernizar e melhorar
as condições de vida da população que reside na região bem como tornar o espaço
um ponto turístico. A principal ação será a derrubada da Perimetral e a
construção de um túnel de aproximadamente 4km para substituir o elevado.
Com a informação de que
a área seria modernizada, a empresária Cláudia Melo Alves decidiu empreender um
novo projeto. Em 2004, ela inaugurou uma casa de samba, o Trapiche Gamboa. Em vez de reformar o armazém original para
torná-lo mais atraente, Cláudia resolveu restaurá-lo. Durante a obra, ela se
surpreendeu ao jogar ácido no chão. Havia ali um belo piso de azulejo escondido
durante muitos anos embaixo de camadas de tinta.
Hoje, o Trapiche Gamboa é
um sucesso. O clima rústico da casa de samba faz qualquer pessoa se sentir à
vontade para dançar a noite toda. Cláudia conseguiu criar um ambiente que ela
mesma gostaria de frequentar. A programação da casa é voltada para o público
que gosta de samba e cultura.
Fachada do Trapiche Gamboa. Foto: Divulgação |
Um
samba democrático
O samba de raiz virou
moda entre os jovens novamente. A galera da Zona Sul, que antes só
frequentava as boates no bairro, trocaram as músicas eletrônicas pelos sambas
de Chico Buarque, Tom Jobim e Baden Powel. Músicas como “Trem das onze” e
“Deixa a menina” são os preferidos do público do Trapiche Gamboa.
- Nada de pagode. Eu venho pra cá para ouvir samba de raiz. Eu
adoro o clima desse lugar, me sinto em casa. Eu trouxe muitos amigos e agora
esse é o nosso point. Muitos deles nem gostavam de samba antes, já até
conhecemos a dona de tanto que a gente vem - disse a advogada Mariana Freitas.
Já para o músico Paulinho Marques, do grupo Sem Telha, que se apresenta às
sextas-feiras, o público do Gamboa é muito animado e diversificado.
- Aqui a gente vê de tudo, tem jovem, velho, preto, branco. Parece
que o lugar é mágico. Quem entra no Trapiche não consegue ficar parado. A letra
da música - “quem não gosta de samba bom sujeito não é” - se reflete aqui. Quem
não gosta de samba fica lá, do lado de fora. Aqui é berço do samba, berço de
bambas.
A programação é a mais variada possível dentro desse universo. A casa funciona
de terça a sábado e o valor do ingresso varia de acordo com a programação,
entre R$ 10 e R$ 20, referentes ao couvert artístico.
O público do Trapiche Gamboa gosta de samba de raiz |
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