segunda-feira, 1 de julho de 2013

Trapiche Gamboa: da degradação ao sucesso


Com a modernização da Zona Portuária, antigo armazém é repaginado e se torna casa de show no Centro boêmio do Rio
Beatriz Garcia

Os trapiches originalmente são máquinas que foram muito utilizadas durante o período do engenho no Brasil. A máquina funcionava com tração animal que, por algumas vezes, era substituída por tração humana. Os escravos eram colocados nos lugares dos bois e giravam um em cada braço de força para moer a cana e dela extrair o caldo. O líquido que dela saía era mais utilizado para a fabricação de cachaça do que ser usado como açúcar.
                Mais tarde, os trapiches serviram como casas de suporte e armazenamento de produtos para importação e exportação de mercadoria na Zona Portuária da cidade. Os trapiches funcionavam também como pontos de encontro nos centros das cidades, devido a sua localização. Comerciantes de diversos lugares se reuniam ali para trocar informações, comer, beber, receber as mercadorias ou estocá-las para serem exportadas.
                No Rio de Janeiro, o trapiche que mais prosperou foi o Gamboa. Localizado na Zona Portuária, o estabelecimento foi muito importante na época da construção do Porto do Rio. Próximo ao Morro da Conceição, ao Cais do Valongo e à Pedra do Sal, situava-se próximos a outros armazéns onde escravos eram comercializados. Com a proibição e a libertação dos escravos, toda essa região ficou degradada e foi esquecida.
                A revitalização
A primeira grande reforma que a Zona Portuária sofreu foi durante o governo de Pereira Passos, no início do século passado. As obras acabaram isolando essa parte da área nobre do Centro do Rio. Não foi diferente com a abertura da Avenida Presidente Vargas, nos anos 40. A área voltou a ser desprestigiada mais uma vez.
 Com a vinda de grandes eventos para a Cidade Maravilhosa, um projeto de revitalização do Porto e adjacências precisou ser criado. Uma cidade que se propõe a receber os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo não poderia ter uma de suas portas de entrada tão degradadas. O projeto Porto Maravilha foi criado através de uma lei de operação urbana. A obra consiste em modernizar e melhorar as condições de vida da população que reside na região bem como tornar o espaço um ponto turístico. A principal ação será a derrubada da Perimetral e a construção de um túnel de aproximadamente 4km para substituir o elevado. 
Com a informação de que a área seria modernizada, a empresária Cláudia Melo Alves decidiu empreender um novo projeto. Em 2004, ela inaugurou uma casa de samba, o Trapiche Gamboa.  Em vez de reformar o armazém original para torná-lo mais atraente, Cláudia resolveu restaurá-lo. Durante a obra, ela se surpreendeu ao jogar ácido no chão. Havia ali um belo piso de azulejo escondido durante muitos anos embaixo de camadas de tinta.

Hoje, o Trapiche Gamboa é um sucesso. O clima rústico da casa de samba faz qualquer pessoa se sentir à vontade para dançar a noite toda. Cláudia conseguiu criar um ambiente que ela mesma gostaria de frequentar. A programação da casa é voltada para o público que gosta de samba e cultura.
Fachada do Trapiche Gamboa. Foto: Divulgação 

  Um samba democrático

O samba de raiz virou moda entre os jovens novamente.  A galera da Zona Sul, que antes só frequentava as boates no bairro, trocaram as músicas eletrônicas pelos sambas de Chico Buarque, Tom Jobim e Baden Powel. Músicas como “Trem das onze” e “Deixa a menina” são os preferidos do público do Trapiche Gamboa.
- Nada de pagode. Eu venho pra cá para ouvir samba de raiz. Eu adoro o clima desse lugar, me sinto em casa. Eu trouxe muitos amigos e agora esse é o nosso point. Muitos deles nem gostavam de samba antes, já até conhecemos a dona de tanto que a gente vem - disse a advogada Mariana Freitas.
            Já para o músico Paulinho Marques, do grupo Sem Telha, que se apresenta às sextas-feiras, o público do Gamboa é muito animado e diversificado.
- Aqui a gente vê de tudo, tem jovem, velho, preto, branco. Parece que o lugar é mágico. Quem entra no Trapiche não consegue ficar parado. A letra da música - “quem não gosta de samba bom sujeito não é” - se reflete aqui. Quem não gosta de samba fica lá, do lado de fora. Aqui é berço do samba, berço de bambas.

            A programação é a mais variada possível dentro desse universo. A casa funciona de terça a sábado e o valor do ingresso varia de acordo com a programação, entre R$ 10 e R$ 20, referentes ao couvert artístico. 
O público do Trapiche Gamboa gosta de samba de raiz

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