segunda-feira, 1 de julho de 2013

Revitalização e tranquilidade no Morro da Conceição


Moradores relatam as delícias de morar numa das regiões mais pacatas do Rio

Por Marianna Jardim

O Morro da Conceição já não está mais alheio ao carioca como antes. Com as reformas feitas desde 2012, a Ladeira João Homem ganhou novos postes de luz que agora possuem fiação elétrica subterrânea. A calçada de paralelepípedo foi renovada, e continua dando a mesma sensação de se estar numa pequena vila mesmo com as novas calçadas estreitas que a cercam. A região já não é mais a mesma da época de João do Rio e Maria Graham, que ao flanarem pelas ruas observaram uma outra realidade.

A revitalização da área trouxe melhorias à infraestrutura da região sem tirar o charme de antigo bairro português do Morro da Conceição. É possível ainda apreciar tudo o que o local tem a oferecer, a começar pela própria história. Junto com os morros do Castelo, Santo Antonio e São Bento, o Morro da Conceição é um marco da ocupação original do Rio de Janeiro. Antes chamado de Morro do Valongo, a região foi imortalizada por João do Rio e Maria Graham em textos e crônicas, e por Jean-Baptiste Debret no quadro “Mercado da Rua do Valongo”. A obra representa uma cena cotidiana da época: escravos sentados em uma sala de venda, prontos para serem comprados por um senhorio.

Os moradores da região pouco têm a reclamar. Dona de um bar e de uma residência na Ladeira João Homem, Iraci Pinheiro dos Santos, de 65 anos, mora há 43 no Morro da Conceição. Segundo ela, o clima entre os moradores sempre foi de muita tranquilidade, sem grandes perturbações. Os habitantes possuem uma noção muito forte de comunidade, o que faz com que todos se conheçam. A presença de qualquer estranho é imediatamente notada, e em geral costumam ser amigos de vizinhos ou turistas.

- Eu me sinto muito segura aqui, é bem isolado da cidade e todo mundo se conhece  – admite dona Iraci, como é conhecida.

- O povo aqui é muito educado, as pessoas têm noção de comunidade, ninguém deixa sujeira na rua. As crianças respeitam os mais velhos – diz Sandra Moura, 60 anos, professora aposentada de matemática e moradora da Ladeira João Homem desde que nasceu.

– Aqui a qualidade de vida é ótima. Quer dizer, antes era melhor, vinha menos gente de fora.

Os “forenses”, no entanto, não são mal recebidos. É comum moradores abrirem suas casas ou puxarem conversa no meio da rua com os que percebem que não são dali. Mais um aspecto que torna o Morro da Conceição uma joia rara muito bem escondida.



O Morro da Conceição pelo olhar do visitante

O Morro da Conceição não foi sempre foi apreciado da mesma forma. Em sua passagem de 15 anos pelo Brasil, de 1816 a 1831, o pintor Jean Baptiste Debret retratou a realidade da época na região: negros sendo vendidos por ciganos. O quadro retrata a dureza das condições em que viviam esses escravos, expostos como mercadorias em uma vitrine.

Em “A alma encantadora das ruas”, livro que reúne as crônicas de João do Rio sobre a cidade, as ruas e suas transformações, não é rara a menção ao Morro da Conceição. O jornalista e escritor, que morreu em 1921, costumava fazer “panoramas literários” do que via em suas caminhadas pela cidade, relatando histórias e conversas das suas aventuras. Sobre a região, costumava referir-se a ela como lugar de “bando de capoeiras perigosos”.
Em seu livro, Maria Graham descreveu mercado de venda de escravos


O relato de Maria Graham, no entanto, é de um tom bastante humanista e impressionado. A escritora britânica conta da sua experiência no local em “Diário de uma viagem ao Brasil”. Escrito entre os anos 1821 e 1823, o livro demonstra a preocupação de Graham com o estado dos escravos. Ela os denomina “pobres criaturas”, e ao mesmo tempo reconhece que não são uma boa mão-de-obra. Suas impressões do Valongo, como era chamado, não remetem ao pequeno paraíso que hoje encontramos na Ladeira João Homem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário