O
Morro da Conceição é um desses lugares escondidos da cidade do Rio de Janeiro
que nos remete ao passado. Localizado próximo à Praça Mauá, no bairro da Saúde,
o Morro da Conceição reúne muitas famílias de origem portuguesa. É uma região
de importância histórica significativa.
Juntamente com o Morro do Castelo, Santo Antônio
e São Bento, - o Morro da Conceição foi um marco na ocupação inicial do Rio de Janeiro. Juntos, formavam
o quadrilátero onde a cidade cresceu durante três séculos, a partir de 1565.
Essa ocupação da cidade começando pelos morros não foi por acaso. Era uma
questão estratégica de defesa contra possíveis invasores. Tentando se proteger,
no alto do morro, o exército português instalou canhões e fortalezas em volta
de toda a Baía de Guanabara. E em consequência, os moradores do local tinham
que conviver constantemente com altivos estrondos das balas de canhões. E não
era só isso: havia cheiro constante de pólvora e fumaça que se alastrava por toda a Baía.
A
vida no Morro da Conceição era semelhante aos tradicionais bairros portugueses
da época. Mas seu nome nem sempre foi esse. No início, chamava-se Morro do
Valongo. Essa distinção foi usada até o começo do século XX, com a fundação do
Observatório do Valongo, em 1926. Já a origem do seu nome atual se deu por
conta de uma pequena capela em homenagem a Nossa Senhora da Conceição, que
desde então se tornou padroeira do lugar. A capela foi construída no topo do
morro em 1590, por uma devota chamada Maria Dantas. Após a construção, ela doou
a capela aos frades do Carm. Além disso, deu também um terreno para a construção de um convento. Em
1659, os monges capuchinhos franceses iniciaram a construção do que veio a
tornar-se, várias décadas depois, o Palácio Episcopal.
O
lugar abriga inúmeros outros atrativos como, por
exemplo, a Pedra do Sal. O local tem uma especial importância para a cultura negra e
para amantes do samba e do choro. Lá perto, a partir de 1608, ficava o grande mercado de escravos. Depois se
tornou reduto do samba reunindo nomes conhecidos como Donga, Pixinguinha,
João da Baiana, entre outros. Há também o Jardim Suspenso do Valongo, construção paisagística,
a sete metros do nível da rua, com 1.530
metros quadrados. Foi planejado para ser um muro de contenção feito durante
as obras de urbanização do prefeito da Pereira Passos, no início do século passado.
Subindo
o morro, pudemos comprovar que realmente existem muitos traços portugueses não
só na arquitetura, mas no modo de vida. As ruas e escadas são extremamente
estreitas e íngrimes. Lá encontramos ruas com nome de brinquedo como a Rua do
Escorrega, e Jogo da Bola. A maioria de seus moradores mora lá há muitos anos, e é praticamente impossível não saber a
história do lugar onde vive.
Josefina
de Jesus Andrade dos Santos, 68 anos, afirma sem pestanejar que vive há mais de
60 no Morro por opção.
-
Olha minha filha, eu moro aqui desde que nasci e nunca em toda a minha vida
quis morar em outro lugar. Meus filhos todos casaram e foram embora. Eles me
ofereceram até casa para sair daqui, mas eu não quero não. Aqui parece muito
com a terra dos meus pais, que conheci quando eu ia passar férias lá. Não
troco isso aqui por nada, viu? Enquanto viver, estarei aqui.
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