Jardim Suspenso do
Valongo é o novo oásis do Centro do Rio
Por
Fillipe Lorenzoni
Bonita
por natureza e com uma alegria revigorante, a Cidade Maravilhosa não para de se
adaptar aos novos tempos. Inspirado por outras revitalizações, o atual governo
da cidade resolveu recuperar belezas esquecidas ou depredadas com o passar dos
anos. Em um projeto ambicioso, a revitalização da Zona Portuária, que ganhou o
nome de Porto Maravilha, reestrutura várias áreas da região, descobrindo oásis
esquecidos em pleno Centro do Rio e revivendo uma história escravagista que
nunca deveria ter sido esquecida.
Criado
no ano de 1906, pelo então prefeito Pereira Passos, o Jardim Suspenso do
Valongo, foi projetado pelo paisagista Luis Rei como uma obra de contenção do
antigo Morro do Valongo, hoje Morro da Conceição. Localizado ao final da Rua
Camerino, no bairro Saúde, a antiga Rua do Valongo ligava o Cais do Valongo ao
Largo do Depósito, conhecido como um dos principais pontos de venda de escravos
e objetos para a prática da escravidão. A criação desse espaço teve total
interesse em apagar o passado escravagista da área portuária da cidade, tirando
qualquer sinal do passado para quem chegasse à cidade através do porto,
tornando-se um lugar romântico, onde a sociedade da época desfrutava de
passeios.
Visão geral do Jardim do Valongo |
Após
cem anos, o Jardim que foi recuperado pela prefeitura da cidade, vive um
momento de grandes descobertas. Cercado por outros pontos importantes para
história do país, os jardins suspensos representam um canto de paz e beleza
para quem vive por ali. O segurança do local, José Paulo de França, 42 anos,
natural de Recife e morador do Complexo do Alemão, conta que é muito tranquilo no
Valongo.
– Não tenho muito trabalho por aqui, os
moradores comentam que aqui era dominado por usuários de drogas, hoje eu vejo
apenas turistas e pessoas que fogem da correria do centro para momentos de silêncio.
Passo meus dias aqui, há um ano, e não pretendo sair.
É
possível notar o carinho que os funcionários têm pelo local. Para a manutenção
dos jardins, não é preciso de muita coisa afirma o jardineiro da Risoma,
prestadora de serviço do Porto Novo. Alexandre Bento Medeiros, 30, é jardineiro
há dois anos e diz que o único trabalho é trocar plantas que não estão mais tão
bonitas.
– Às
segundas-feiras, trocamos tudo o que deve ser trocado. No restante da semana,
mexemos na terra e podamos o que for necessário. É um serviço tranquilo, pois
ainda não temos muitas pessoas frequentando. São os turistas que mais aparecem
e normalmente nos fins de semana. O bom é contar com os moradores, que não
depredam mais o lugar e aproveitam do espaço de forma educada.
O
jardim fica aberto à visitação de terça a domingo, das 10h às 18h, e a Casa da
Guarda, que fica na mesma área, abriga uma
exposição com peças arqueológicas das escavações das obras do Porto. Além das
flores e árvores que tornam o jardim um oásis, também é possível observar
estátuas dos Deuses Minerva, Marte, Ceres e Mercúrio que ficavam no Cais
da Imperatriz.
No
local, você não encontra guias ou historiadores. Para participar de uma visita
guiada pelo circuito histórico, que inclui passagens pelo Cais do Valongo
e da Imperatriz, Jardim do Valongo e Casa da Guarda é preciso agendar. As
saídas ocorrem às 11h e às 14h, de terça a domingo. Marcações para grupos pelo
email: atendimento@meuportomaravilha.com.br.
Mictório Público vira Posto de
Informações
Enquanto
a Prefeitura investe na reestruturação da Zona Portuária, o turismo continua
voltado para os pontos clássicos da cidade como o Cristo Redentor e Pão de Açúcar,
não havendo material destinado para as novas descobertas da cidade como o Instituto
dos Pretos Novos, Cais da Imperatriz e Cais do Valongo, muito menos informações
sobre a Pedra do Sal e o Jardim Suspenso do Valongo.
Um
novo posto para informações turísticas foi instalado no antigo Mictório
Público, localizado junto aos Jardins Suspensos, aberto ao público às quartas-feiras.
É visível o despreparo do local para as novas descobertas da cidade. Os
materiais disponíveis são apenas voltados aos pontos clássico em apenas uma
língua: a inglesa. Além dos pontos turísticos, os materiais fornecem
informações relevantes a Copa das Confederações, ensaio da Copa do Mundo, que
ocorrerá no país no próximo ano.
Em
meio a protestos, o Brasil vive momentos de mudanças, mas o Rio de Janeiro já
vem adaptando-se aos novos tempos. Prestes a sediar eventos de porte mundial,
como a Copa do Mundo (2014) e as Olimpíadas (2016), as reestruturações de
espaços públicos e meios de transportes, o Porto Maravilha vem para embelezar a
cidade e proporcionar novos espaços de lazeres. A recepcionista bilíngue do
novo posto de informações, Fátima Brito, 41 anos, contratada pela prestadora de
serviço Rio Tour, só ficou sabendo da existência do Jardim no momento que
inaugurou o serviço informativo. Moradora de Niterói, fluente em francês, espanhol
e italiano, ainda encontra muitas dificuldades em explicar a história do local,
já que não recebeu nenhuma formação sobre o assunto.
Fátima Brito: simpatia para receber turistas, mas sem informação adequada. Foto divulgação |
–
Passei a conhecer um pouco da história do Jardim e a Pedra do Sal no meu
horário de almoço, acompanhando os passeios guiados. Em nenhum momento fui
preparada para informar sobre o Porto Maravilha, e sempre que questionada fico
com medo de explicar de forma errada ou falha.
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