sexta-feira, 28 de junho de 2013

Pedra do Sal: um lugar democrático


Frequentadores descrevem uma das rodas de sambas mais antigas do Rio
                                                                                                             
Por Larissa Kurka

Pela rua Argemiro Bulcão, no século XVIII e XIX, era comum ao final do dia se ver pelo chão sal espalhado. Hoje, o que se vê são pedaços de cascas de ovos coloridos e limão revelando que no dia anterior certamente houve no bairro da Gamboa, no Centro, o tradicional samba da Pedra do Sal regado a caipirinha e o famoso rosinha.
Reduto do samba a Pedra do Sal antes era local de reunião de estivadores que após ao trabalho se juntavam em volta dos sambistas para relaxar e cantar. Também foi responsável por revelar grandes talentos como Pixinguinha, Donga, Heitor dos Prazeres e João da Baiana.
O samba não morreu e atualmente tem seu encontro com os amantes do ritmo às segundas e sextas-feiras. Pelas paredes se vê a afirmação de uma história construída pelos negros e figuras tradicionais da nossa cultura como o chamado malandro. Há artes retratando Cartola e exaltando o samba no local. Assim como mulheres negras trajando roupas de baianas, fazendo referência as que ajudaram a propagar o cadomblé, como a tia Ciata.
Eles retratam não só outra época, mas também o presente com a contínua atividade de preservação de um dos ritmos responsável por uma das identidades brasileiras, o samba.
Curioso por ser um local que atrai pessoas de todas as classes sociais é considerado um espaço  democrático. Às sextas, é comum encontrar um engravatado por lá assim como pessoas que procuram um ambiente agradável para curtir um bom samba e uma cerveja gelada, como o ator Luiz Fernando Pinto descreve.
—  Pelo menos uma vez ao mês, eu venho à Pedra do Sal. Até porque trabalho perto e o lugar é superdemocrático. Não é lugar de classe, frequenta todo mundo.
O local, que fica aos pés do Morro da Conceição, também reúne os moradores que, apesar do barulho, dizem gostar do que veem na porta de casa. Este é o caso do metalúrgico Jorge Santos, 50 anos, que mora no prédio 37, em frente à Pedra do Sal.
  Gosto do samba. Quando vim morar aqui, a roda  já existia. Então já sabia do barulho. Mas os moradores gostam de participar e interagir com pessoas de todos os lugares do Rio.
Ele conta que a prefeitura realiza o serviço de limpeza normalmente e que os que moram no local não têm do que reclamar neste sentido.
Sambistas na Pedra do Sal. Foto: Riotur

A enfermeira Ludmila Stefe diz que o diferencial da Pedra do Sal é a presença de sambistas de outrora, do chamado samba de raiz.
—  Gosto de lá por tocar samba antigo de compositores como Cartola e Candeia. Além disso, é frequentado por moradores antigos, que viveram esta época e muita gente que pesquisa o samba. É um local onde se pode reconhecer a nossa história.
Mas Ludmila e seu amigo Luiz Paulo Neto, estudante de história, dizem que apesar do lugar ser um dos poucos que costumam tocar o estilo no Rio,  isso vem se perdendo nas noites de sexta-feira. Muitas pessoas pedem sambas mais modernos, como os de Zeca Pagodinho, fugindo um pouco dos cantores tradicionais.
— Essa geração nova não quer ouvir Clementina de Jesus. A galera pede coisas mais novas e aí vai morrendo a tradição.
Para quem não sabe, Clementina foi uma cantora de samba que começou sua carreira aos 62 anos. A idade avançada da empregada doméstica não foi nenhum empecilho para o sucesso. O interessante foi que,  além de cantar partido alto, Clementina recuperou antigas canções africanas que estavam se perdendo, tais como o jongo e os cantos de trabalho.
Outro ponto que incomoda Ludmila e Luiz Paulo é que a quantidade de gente na Pedra do Sal. Como o espaço é pequeno fica difícil se movimentar. É a opinião que também compartilha o morador Jorge Santos.

Apesar disso, eles reconhecem que o local ainda preserva a sua essência às segundas-feiras. É um dos poucos lugares onde ainda se pode encontrar o samba de raiz. 

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