A industrialização na cidade do Rio e o
papel de destaque do Moinho Fluminense
Thaís Gontijo Bisinoto
A Zona Portuária do Rio de Janeiro teve importância econômica, política e até
cultural, já que, até o início do século XVIII, a cidade se restringia
praticamente à área central. Formado pelos bairros da Gamboa, Saúde e Santo
Cristo, o porto ganha ainda mais importância histórica, considerando que os
escravos eram comercializados ali, na antiga Rua do Valongo e, hoje, Rua
Camerino.
Como
não poderia ser diferente, o processo de industrialização do Rio de Janeiro
teve início nos arredores dessa região, com a fundação pelo Barão de Mauá
daquele que viria a ser o principal empreendimento industrial do país – ainda
que por um curto período de tempo –, o Estabelecimento de Fundição e Companhia
Estaleiro da Ponta da Areia. Em quatro anos, ele teve seu rendimento quadruplicado
e empregava mais de mil funcionários, algo extraordinário para a época.
A importância do Moinho Fluminense
Nas
décadas seguintes, outros empreendimentos foram surgindo, em sua maioria de
produção de bens não-duráveis e semiduráveis, como artigos de higiene,
alimentícios e de vestuário. Em 1883, foi fundado o Moinho Fluminense, uma das
mais significativas construções industriais do Rio de Janeiro, que começou a
funcionar em 1887, com o alvará de funcionamento assinado pela princesa Isabel.
A instalação
do Moinho é de grande importância para a história do pão no Brasil onde, até
metade do século XIX, não se conhecia o trigo. O pão de trigo, como o
conhecemos hoje, chegou ao país junto com os portugueses, no século XIX, e
ganhou espaço na alimentação dos brasileiros com a imigração italiana.
Tombado
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Moinho leva
consigo grande importância histórica, devido aos acontecimentos que ali
aconteceram. Por exemplo, com a eclosão da Revolta Armada de 1893, Rui Barbosa
– então Ministro da Fazenda – foi buscar refúgio dentro do empreendimento, com
ajuda de seu amigo Carlos Gianelli, proprietário do Moinho à época. Quatro anos
depois, soldados que vinham da Guerra de Canudos se alojaram perto do Ministério
do Exército, que ficava no Morro da Providência, próximo às instalações.
O
arquiteto contratado para o projeto do Moinho foi Antônio Januzzi, também responsável
pelo Palácio Pedro Ernesto (Câmara dos Vereadores) e o Obelisco da Avenida Rio
Branco. A construção foi feita com tijolos ligados por uma mistura de barro e
óleo de baleia, para evitar seu desmoronamento devido à trepidação das máquinas
de moagem. O passadiço que une os dois pavilhões laterais recebem destaque na
construção.
A
unidade foi adquirida pela Fundação Bunge – empresa de origem holandesa – em
1914, como parte da expansão da empresa no país, que já atuava no Moinho
Santista. Hoje, localizada na Rua Sacadura Cabral na altura do número 305,
entre a Rua do Livramento e a Rua da Gamboa, o parque industrial continua
industrializando trigo.
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