A
placa, instalada pela Secretaria Estadual de Cultura, exibe um breve resumo da
história da Pedra do Sal aos visitantes. Foto: Melyssa Bersan
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Com o propósito de manter a herança
cultural do lugar, a roda de samba da Pedra do Sal atrai cariocas e turistas
para a Zona Portuária do Rio
Melyssa Bersan
A Pedra do Sal, localizada no bairro da Saúde, liga o Morro da Conceição à Zona Portuária do Rio de Janeiro e é parte significativa da tradição afro-brasileira. Nos séculos XVI e XVII, a pedra servia de lugar de desembarque do sal trazido por embarcações. Os escravos, responsáveis por levar o produto morro acima, para facilitar o trabalho, esculpiram a escadaria ainda presente na rocha. A partir do século XIX, a região passou a receber negros vindos da Bahia, que, além de trabalho, encontraram ali um espaço onde podiam celebrar seus hábitos religiosos e culturais, como rodas de capoeira e batucadas. Há quem diga que, em função desse histórico, a ladeira pode ser considerada o verdadeiro berço do samba.
Entalhada
por escravos, a escadaria agora fica cheia de frequentadores da tradicional
roda de samba Foto: Melyssa Bersan
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Antigo ponto de encontro de grandes sambistas, como
Donga, Pixinguinha, João da Baiana e Sinhô, a Pedra do Sal ainda recebe, toda
segunda e sexta-feira, a partir das 19h, cerca de duzentas pessoas que estão em
busca de uma roda recheada de clássicos do gênero musical. Enquanto, nas
segundas, eles encontram a mais tradicional roda de samba da Pedra do Sal, nas
sextas, os visitantes aproveitam um programa com caráter de puro
entretenimento.
De acordo com um dos
organizadores do evento do início da semana, Walmir Pimentel, a roda tem como
lema "Preservar, resistir e resgatar", para que assim, possam tentar
fazer com que a memória do samba e da cultura popular não desapareça com o
tempo. Para ele, é preciso romper com a lógica de que eventos gratuitos, que
têm como palco os espaços públicos, não podem ser de alta qualidade.
- Fazemos cultura em um espaço do povo brasileiro, de
origem africana, sobre o maior mercado de escravos que o mundo já viu. A
importância da nossa roda de samba está em contribuir com a revitalização da
cultura que na pedra se fundou e que ficou adormecida por descaso político por
mais de sessenta anos. Trazer à tona o clima produzido pelos estivadores e pelo
povo que habitava os zungús (moradia coletiva de escravos, fugidos ou
alforriados), fazendo samba no prato e na palma da mão. Ou seja, o evento de
segunda-feira não tem a pretensão de achar que é inventora de nada. O que
fazemos, por gratidão histórica, é dar continuidade aos laços ancestrais que
nos une e amálgama em notas musicais, explica Pimentel.
Em uma mesa montada ao pé da pedra, os músicos tocam
instrumentos tradicionais e cantam sem microfones, a fim de valorizar o canto
do público presente, que é sempre bem eclético e democrático. Segundo Walmir Pimentel, atualmente, os moradores do
local dividem a maior parte da frequência com os turistas, que agora são
atraídos pelo projeto Porto Maravilha.
- O projeto superlotou os eventos
semanais, colocando a roda de samba no roteiro oficial da região. A prefeitura
nos fornece a autorização documental para funcionarmos. A relação é quase nula.
A segurança é feita em consonância entre ambulantes. Talvez, salvo engano, seja
uma relação pautada pela conveniência momentânea do boom espacial da Gamboa - comenta
o organizador do evento.
Número
de banheiros é apontado como insuficiente
As rodas de samba
na Pedra do Sal movimentam as noites cariocas todas as semanas, mas parece que
a infraestrutura do lugar tem deixado a desejar. A Prefeitura do Rio de Janeiro
instalou apenas três banheiros químicos no lugar. O cheiro de urina começa a
aparecer já no início do evento e fica até o dia seguinte, o que assusta quem
visita um dos mais belos e tradicionais cenários do Rio Antigo, tombado pelo
Instituto Estadual do Patrimônio Cultural em 1984.
O problema com o pouco número de banheiros químicos é o
principal alvo de reclamações entre as mulheres que vão ao evento. A assistente
financeira, de 32 anos, Carolina Marins é frequentadora há um ano da Pedra do
Sal. Apesar de gostar muito do evento, reclama da falta de infraestrutura.
- Eu venho porque adoro samba e gosto do aspecto cultural
e histórico do lugar, principalmente pelas construções mais antigas mantidas,
mas acho que o acesso aos banheiros ainda pode ser melhorado, porque é muito
ruim mesmo, disse.
O organizador das rodas de samba das segundas-feiras
Walmir Pimentel conta que a instalação dos banheiros químicos foi a única
mudança quanto à infraestrutura da Pedra do Sal realizada pelo governo do Rio
de Janeiro.
- A prefeitura dotou o evento com banheiros químicos.
Entretanto, não foi pelo evento e seus motes, mas claramente pelo apelo
"gringolesco". E só! As lixeiras, os refletores, a lona são alguns
frutos de nossa luta e do apoio de nosso público plural - explica.
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