quinta-feira, 27 de junho de 2013

A favor da preservação do samba

A placa, instalada pela Secretaria Estadual de Cultura, exibe um breve resumo da história da Pedra do Sal aos visitantes.  Foto: Melyssa Bersan


Com o propósito de manter a herança cultural do lugar, a roda de samba da Pedra do Sal atrai cariocas e turistas para a Zona Portuária do Rio
Melyssa Bersan

           


            A Pedra do Sal, localizada no bairro da Saúde, liga o Morro da Conceição à Zona Portuária do Rio de Janeiro e é parte significativa da tradição afro-brasileira. Nos séculos XVI e XVII, a pedra servia de lugar de desembarque do sal trazido por embarcações. Os escravos, responsáveis por levar o produto morro acima, para facilitar o trabalho, esculpiram a escadaria ainda presente na rocha. A partir do século XIX, a região passou a receber negros vindos da Bahia, que, além de trabalho, encontraram ali um espaço onde podiam celebrar seus hábitos religiosos e culturais, como rodas de capoeira e batucadas. Há quem diga que, em função desse histórico, a ladeira pode ser considerada o verdadeiro berço do samba. 






Entalhada por escravos, a escadaria agora fica cheia de frequentadores da tradicional roda de samba Foto: Melyssa Bersan
            Antigo ponto de encontro de grandes sambistas, como Donga, Pixinguinha, João da Baiana e Sinhô, a Pedra do Sal ainda recebe, toda segunda e sexta-feira, a partir das 19h, cerca de duzentas pessoas que estão em busca de uma roda recheada de clássicos do gênero musical. Enquanto, nas segundas, eles encontram a mais tradicional roda de samba da Pedra do Sal, nas sextas, os visitantes aproveitam um programa com caráter de puro entretenimento.
De acordo com um dos organizadores do evento do início da semana, Walmir Pimentel, a roda tem como lema "Preservar, resistir e resgatar", para que assim, possam tentar fazer com que a memória do samba e da cultura popular não desapareça com o tempo. Para ele, é preciso romper com a lógica de que eventos gratuitos, que têm como palco os espaços públicos, não podem ser de alta qualidade.
            - Fazemos cultura em um espaço do povo brasileiro, de origem africana, sobre o maior mercado de escravos que o mundo já viu. A importância da nossa roda de samba está em contribuir com a revitalização da cultura que na pedra se fundou e que ficou adormecida por descaso político por mais de sessenta anos. Trazer à tona o clima produzido pelos estivadores e pelo povo que habitava os zungús (moradia coletiva de escravos, fugidos ou alforriados), fazendo samba no prato e na palma da mão. Ou seja, o evento de segunda-feira não tem a pretensão de achar que é inventora de nada. O que fazemos, por gratidão histórica, é dar continuidade aos laços ancestrais que nos une e amálgama em notas musicais, explica Pimentel.
            Em uma mesa montada ao pé da pedra, os músicos tocam instrumentos tradicionais e cantam sem microfones, a fim de valorizar o canto do público presente, que é sempre bem eclético e democrático. Segundo Walmir Pimentel, atualmente, os moradores do local dividem a maior parte da frequência com os turistas, que agora são atraídos pelo projeto Porto Maravilha.
            - O projeto superlotou os eventos semanais, colocando a roda de samba no roteiro oficial da região. A prefeitura nos fornece a autorização documental para funcionarmos. A relação é quase nula. A segurança é feita em consonância entre ambulantes. Talvez, salvo engano, seja uma relação pautada pela conveniência momentânea do boom espacial da Gamboa - comenta o organizador do evento.
            Número de banheiros é apontado como insuficiente
             As rodas de samba na Pedra do Sal movimentam as noites cariocas todas as semanas, mas parece que a infraestrutura do lugar tem deixado a desejar. A Prefeitura do Rio de Janeiro instalou apenas três banheiros químicos no lugar. O cheiro de urina começa a aparecer já no início do evento e fica até o dia seguinte, o que assusta quem visita um dos mais belos e tradicionais cenários do Rio Antigo, tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural em 1984.
            O problema com o pouco número de banheiros químicos é o principal alvo de reclamações entre as mulheres que vão ao evento. A assistente financeira, de 32 anos, Carolina Marins é frequentadora há um ano da Pedra do Sal. Apesar de gostar muito do evento, reclama da falta de infraestrutura.
            - Eu venho porque adoro samba e gosto do aspecto cultural e histórico do lugar, principalmente pelas construções mais antigas mantidas, mas acho que o acesso aos banheiros ainda pode ser melhorado, porque é muito ruim mesmo, disse.
            O organizador das rodas de samba das segundas-feiras Walmir Pimentel conta que a instalação dos banheiros químicos foi a única mudança quanto à infraestrutura da Pedra do Sal realizada pelo governo do Rio de Janeiro.
            - A prefeitura dotou o evento com banheiros químicos. Entretanto, não foi pelo evento e seus motes, mas claramente pelo apelo "gringolesco". E só! As lixeiras, os refletores, a lona são alguns frutos de nossa luta e do apoio de nosso público plural - explica.

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