O Morro da Conceição é um dos pontos de
fundação da cidade, junto com outros quatro morros da região, e é conhecido
pela tranquilidade e clima de cidade do interior
Paulo Henrique Rosa
No sábado, 9 de junho de 2013, um grupo de universitários se reúne
para descobrir as belezas e as histórias de um antigo morro do Rio, o da
Conceição. Às 11h, tudo fechado. Nem farmácia, nem padaria. Eles param para
pedir informação e começam a subir. As casas fechadas, ninguém nas ruas. Vão para
outro ponto e tiram fotos, leem cartazes. Uma moradora aparece carregando
bolsas de compra. Duas das meninas vão conversar com ela. O tempo é curto e
eles voltam pra rua. Uma outra senhora aparece e para perto do grupo.
- Você é o guia? - pergunta para um dos meninos
- Não - ele responde
- Olha, hoje tá perigoso
andar por aqui. Logo vi que vocês não eram daqui. Mataram um traficante e
mandaram fechar tudo aqui nessa região. Estou indo trabalhar e não sei se pode
acontecer alguma coisa comigo. Estou com medo. Melhor vocês irem embora – aconselha a moradora, sem se identificar.
Casas e comércio fechado no dia 8 de junho. Fotos: Ana Carolina Cardos |
O morro só tem dois acessos principais |
Dia atípico
Inicialmente ocupado por portugueses, o Morro da Conceição é
como uma cidadezinha do interior no Centro do Rio. Clima bucólico, vizinhos
conversando na calçada, crianças brincando até tarde na rua. Mas aquele sábado
foi atípico. Douglas de Oliveira Tássia dos Santos, o DG, foi morto na
madrugada do dia 8 de junho, em confronto com a polícia no Morro da Providência,
Zona Portuária do Rio, perto dali. O tráfico mandou fechar o comércio como
forma de luto. Foi um dia de medo para os moradores da região.
- Aqui é um lugar tranquilo, uma província. Todo mundo se
conhece - diz Cláudio Aun, artista plástico que chegou ao Morro em 1980. Lá
criou seu ateliê. Para ele, esse dia foi diferente do normal.
Teresa Speridião, também artista plástica, concorda com
Cláudio. Para ela, um dos poucos problemas do morro são as obras.
- Aqui
é um bairro bastante tranquilo, convivo muito bem com a vizinhança. As crianças
brincam nas portas de suas casas, na pracinha. Mas ultimamente os guardadores
de carros da Rua do Acre estacionam os carros aqui e sobem em alta velocidade.
O ruim é a intervenção das reformas - refletiu.
As intervenções citadas por Teresa fazem parte do projeto
Porto Maravilha, que está revitalizando toda a região do Morro da Conceição.
Até 2016, a área que ficou esquecida por anos voltará à vida com museus,
centros culturais e reativação de espaços como o Jardim e o Cais do Valongo.
O Morro da Conceição fazia parte do quadrilátero em volta do
qual a cidade cresceu. Ele era formado pelos morros de São Bento, do Castelo e
de Santo Antônio. A herança portuguesa permanece forte, principalmente na
arquitetura. Só existem dois acessos para chegar nele, que faz o morro ser
escondido. Porém, com o projeto de revitalização o local ficará cada vez mais
em evidência. Para Cláudio, que tem um ateliê no morro, o turismo traz
benefícios e não acaba com o clima calmo do lugar.
- Têm tido muita visitação desde o início das obras. Mesmo
assim eu continuo com minhas janelas e minhas portas abertas o tempo inteiro.
Não esquento a minha moringa - conclui.
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