quinta-feira, 27 de junho de 2013

A herança de Passos no Rio de Janeiro de Paes


Em meio a grandes transformações na cidade, imagem de Eduardo Paes é vinculada a de um dos maiores reformistas da história do Brasil
Por Nathalia Bordeaux



Com os importantes eventos que o Rio de Janeiro irá receber entre 2014 e 2016, como Copa do Mundo, Jornada Mundial da Juventude e Olimpíadas, muitas reformas urbanísticas começaram a ser promovidas na cidade. Longe de ser a primeira grande transformação pela qual o Rio passou, os investimentos urbanos promovidos pelo prefeito Eduardo Paes têm aproximado sua imagem da de um antigo líder municipal, Pereira Passos. As reformas de Passos, que ficaram popularmente conhecidas como Bota-abaixo, mudaram completamente o Rio do século XX e visaram ao saneamento, ao urbanismo e ao embelezamento da cidade.
Eduardo Paes e ator que representou Pereira Passoa na inauguração do Jardim do Valongo. Foto: Marcos Tristão (O Globo - Julho de 2012).

As transformações urbanas lideradas pelo ex-prefeito Passos foram um marco na ação reformadora do Rio de Janeiro e deixou legados que ecoam até os projetos urbanísticos atuais. Um dos exemplos de projeto do governo Paes é a Operação Urbana Porto Maravilha, que prevê a revitalização da região portuária do Rio de Janeiro, com o objetivo de trazer melhorias na qualidade de vida dos moradores, além de sustentabilidade ambiental e socioeconômica para a área. A segunda fase das obras dessa operação, que teve início no segundo semestre de 2012 e só deve ficar pronta em 2016, vai ter um investimento de cerca de R$ 8 bilhões – captados através das parcerias público-privadas – e inclui ações como a demolição de parte do elevado da Perimetral, a construção de 4 km de túneis e reurbanização de 70 km de vias.
Para mudarem de maneira tão expressiva o cenário urbano da cidade, no entanto, as reformas tanto de Passos quanto de Paes tiveram um alto custo social. De acordo com o professor de História da PUC-Rio Daniel Pinha, os dois governantes se aproximam pelo descaso com a população, principalmente a mais pobre, quando se trata da remoção de habitações. Segundo o professor, os cidadãos, desprovidos do direito a moradia digna, são empurrados de suas casas pela especulação imobiliária e pela ação do poder público para lugares aos quais não tiveram poder de decisão.
– As comparações entre Paes e Passos são válidas quando entendemos dois projetos de modernização para a cidade que, em momentos distintos, não levam em conta os interesses dos cidadãos e sua relação com o espaço em que habitam - como quando adotam, por exemplo, as remoções de habitações como parte decisiva das reformas. Além disso, ambos utilizam uma retórica moderna que propaga por toda a cidade uma expectativa de progresso, mas que contempla apenas o interesse de poucos, ou seja, dos investidores, especialmente os do setor imobiliário e de construção civil – explicou Pinha.

O atual prefeito, por outro lado, parece gostar bastante das comparações com seu colega do século anterior. Quando foi inaugurar a primeira fase das obras da Zona Portuária, em julho do ano passado, Eduardo Paes por pouco não foi fantasiado de ex-prefeito Pereira Passos. Após ser aconselhado por assessores, acabou desistindo na última hora de usar as roupas simbólicas de época. A tarefa de representar Passos na cerimônia ficou por conta de um ator, que pousou para fotos ao lado de Paes. 

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